domingo, 23 de maio de 2010

Sucesso e declínio da Playboy


É interessante analisar o sucesso da revista Playboy e, segundo boa parte da imprensa internacional, seu momento atual de crise e baixa nas vendas. Atravessando fronteiras, o famoso coelhinho se tornou uma das marcas mais conhecidas do planeta, ao lado de uma série de outros ícones da sociedade norte-americana. Entretanto, diferentemente do Mc Donald ou da Coca-cola, o consumo da Playboy está direcionado apenas para um dos gêneros, isto é, para os homens, de forma que a revista é um símbolo de duas grandes forças de nosso tempo: o capitalismo global e o predomínio patriarcal nas sociedades.

Apesar das últimas crises internacionais, o problema parece não estar exatamente no capitalismo. Os outros ícones, consumidos por ambos os gêneros, continuam firmes e fortes pelo mundo afora. Entretanto, um breve olhar sobre os rumos da sociedade e o segmento bastante restrito da revista, talvez ajude a entender este problema. Em primeiro lugar, a revista está direcionada para atender o desejo do homem por sexo, ou, mais exatamente, por imagens eróticas que remetam às fantasias sexuais. Considerando que, biologicamente, a mente masculina realmente passa boa parte da sua existência pensando em sexo e, pela imaturidade e medo de encarar a realidade, as fantasias sexuais ocupam espaço importante neste desejo permanente por sexo, as vendas dispararam e, se dependesse apenas disso, seria tudo eternamente perfeito.

A mulher, como manda a lógica patriarcal, é um objeto. Existe para dar prazer ao homem, mesmo que este prazer, no caso da revista, seja apenas imaginário. A Playboy permite a qualquer homem, do menino ao senhor de idade, viajar em suas ilusões e ter momentos agradáveis com a cobiçada estrela de Hollywood, mesmo que, na realidade, ela seja apenas uma imagem no papel. Tudo isso, entretanto, está baseado em um aspecto fundamental da sociedade patriarcal: os homens possuem grande poder aquisitivo para comprar revistas. É isso que, em última instância, sustenta todo o consumo de sonhos, desejos e ilusões fornecidos pela playboy. Ela só é real no ato de comprar, como qualquer outro produto, a revista na banca de jornal, conseguindo anunciantes que sustentam o cachê milionário cobrado pelas beldades que se deixam fotografar.

É exatamente neste último ponto, ou seja, na realidade, e não no desejo, que a revista playboy sente a força das mudanças sociais. Os homens ainda possuem maior poder aquisitivo, mas, a cada ano, este poderio econômico masculino vem diminuindo à medida que as mulheres ganham espaço no mercado de trabalho. Considerando que há muito as mulheres já superaram os homens em escolaridade, esta é uma tendência irreversível que trará conseqüências importantes para a vida social. A crise da playboy, que estamos presenciando hoje, é um prenúncio de mudanças ainda maiores. Ora, se os homens estão mais pobres, eles não compram a playboy como antes, reduzindo o poder econômico da revista em todo o mundo. Mesmo no Brasil, sociedade em que este processo caminha de forma mais lenta que em outras do primeiro mundo, há muito já se sabe que a revista perdeu importância. A Playboy brasileira, que sempre se destacou por exibir o corpo de mulheres cobiçadas e atrizes globais, hoje praticamente se limita a exibir em suas páginas pseudocelebridades como funkeiras e ex-bbbs.

Os homens continuarão a ter seus desejos e fantasias sexuais. Entretanto, as revistas que atendem a estes desejos encontrarão cada vez mais dificuldades para continuar existindo. Não por falta de desejo, mas por não haver tanto dinheiro disponível para pagá-lo. Por outro lado, revistas como a playgirl, a prima pobre, não sente os efeitos da crise. Pelo contrário, ela explora cada vez mais o corpo masculino como objeto, mostrando-o para as mulheres. Como a imprensa norte-americana já percebeu, cada vez mais artistas cobiçados aparecem nas páginas da revista, que tem como foco o nu masculino direcionado para a mulher. É verdade que a mulher tem uma outra concepção sobre o erótico, mas o sucesso do clube das mulheres, inclusive no Brasil, prova, ao mesmo tempo, que a sociedade está mudando e que as mulheres estão ávidas por consumirem a nudez masculina. Com dinheiro e poder aquisitivo, a curiosidade e o desejo feminino estarão em primeiro lugar e, no mundo que está se desenhando, revistas como a playgirl serão, em breve, bem mais famosas e populares que a playboy. Assim caminha a humanidade.